Aug 29, 2008

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Eu caminhava pelas calçadas e cuidava pra não tropeçar. Os sapatinhos novos. Ventava. Um tipo de vento que é violento e morno e que arrancaria do chão uma árvore ou uma placa na maior das sutilezas, pedindo “- Com Licença”. Eu caminhava e não tinha pressa. Não me importava em chegar. Andar ao vento bastava.

E não era primavera porque era agosto, lembro-me que era agosto. Mas nada era mais primaveril que o vento morno. Já entardecera e a noite agora se impunha progressivamente. Senti calores que contestavam agosto. “Atchim”. Dei um espirro desses que eu só tenho em primavera. E também reparei nas flores. Andei livre.

Eu usava um vestido claro, com algumas estampas e uns babados. Não por me gabar, mas estava bonita. E nem procurava meu reflexo nas vitrines pra constatar. Contente em me sentir bonita, o resto desimportava. E, de repente, um desses senhores distintos que voltava do seu trabalho reparou em mim e falou pra si “- Bonita”. Eu ouvi, isso porque me intrometi na vida do senhor, no seu caminho, porque me esforcei em ouvir sua voz, que o intuito dele não era que eu soubesse. E foi como uma gentileza delicada, dessas que as pessoas só recebem na primavera.

Continuei o caminho. Aonde eu me levaria? Nem lembrei de pensar que o elogio talvez não fosse pra mim. Estava pretensiosa e impiedosa. Entendam, não sou vaidosa, era o vento que me cortava. Eu flutuava nas rajadas e já não sentia os sapatos. Um outro espirro. E as flores no caminho. É que a primavera não sabe do calendário. Espero que ninguém conte pra ela que chegou adiantada.

7 comments:

Anonymous said...

isso até me lembrou Garota de Ipaneama...

desculpe-me, mas não resiti e quebrei o silêncio mais uma vez

até mais.

Jana Lauxen said...

Lindo, meu!
Lindo mesmo!



E sobre os vizinhos, devo admitir: a minha é mais chata, mas a tua, com certeza, é muito mais louca.

Beijo grande Nate.
E continue.

Luiz Calcagno said...

Parece uma menina de treze, na minha cabeça. Isso porque mulheres amadurecem mais rápido, mas não deixam de ser quem são. Não era primacera, né? Mas era quase.

Fernanda Schena said...

CLAP CLAP CLAP

Adorei.. poesia, primavera ou não e espirros..

Sapatos novos e flores ao chão..

e que este ventinho morno sopre mais vezes por estas estações.. por onde cruzem meninas Nates..

para que ela descreva sensações capazes de nos fazer ver que a vida é linda.. é pura.. mesmo não sendo primavera!

you're no fun any more said...

você é maravilhosa!
babe, me passa teu e-mail?
estou indo para cu-ritiba hoje e ficarei sem internê por um tempinho.
passaê.
besos.
luv.

Anonymous said...

pra q calendário??

linda linda linda

Bárbara said...

que linda!