Aug 16, 2008

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Cícero,



Seu "perfil de blogger" me é indisponível, e não tendo onde responder, respondo cá mesmo.



Espero que tu leias.



Tua gentileza comparando essa minha sopa de letrinhas meio sem gosto a um tinto me deixou até comovida.



Não é tanto pelo prazer narcisista de ser lida, mas me parece que sempre que alguém se dispõe a dar um pouco de atenção a um texto, a ler as sentenças, a descobri-las, esta pessoa também se torna escritora dessas mesmas letras. Um vínculo. Quando há oportunidade como uma dessas, onde os dois indivíduos que dedicaram tempo de sua vida a criar e decifrar os mesmos códigos lingüísticos, este mundo obscuro e obsceno das palavras, quando essas pessoas unidas na mesma experiência simbólica, ambas têm a oportunidade de conversar e de trocar comentários, é que se transcende. Ou seja, resumindo: os pitacos são extremamente bem -vindos. Aliás, acho que a única utilidade de um desses "blógues" é a possibilidade de comentar e ser comentado. A "interatividade".



Quanto à beleza versus inteligência, teus comentários e questionamentos foram realmente pertinentes e me pegaram em pontos em que eu ainda nem havia pensado. As tuas proposições foram infinitamente mais bem orquestradas que as minhas. Só posso dizer que acho que a beleza, quando perseguida, deixa de ser beleza. Vira o palavrão. Para mim, e aí eu falo da forma mais pessoal possível, beleza é uma entidade imune a conceitos, imune às limitações causadas por padronizações, imune!, mas que precisa de espontaneidade. Já a “inteligência”, tendendo então mais à sabedoria que a “inteligibilidade”, não só pode, como deve ser perseguida. Eternamente “caçada”, como boa raposa que é.



A naturalidade da beleza é que, exatamente, a torna bela. E aí não importam os elogios, mas se for o caso, eles surgem naturalmente, como uma expressão da reação ao estímulo de belo. Mas aí eu continuo no plano pessoal – e o que fazer se eu não sei falar de outro jeito? É como se a beleza fosse então, uma união de fatores que se agregam ao acaso em um determinado tempo, resultando um instante poético. Um feixe reluzente sem razão de ser, sem serventia nenhuma, como a poesia, mas que é tão necessária que sobreviveria à eternidade. Como a poesia. Uma coisa que insurge e que precisa, sim, de inspiração. Como a poesia.



A possibilidade de constatação ante o espelho é por demais ligada à subjetividade de quem busca seu reflexo. Há mulheres de formas estonteantes que simplesmente não podem e nunca poderão ser belas, a não ser em passarelas. Acho que a tal beleza também pede um pouco de graça. Não sei. A beleza é quase tão fugidia quanto a raposa “inteligência”.


Já deves ter percebido que quando escrevo, dou de ombros à lógica e à coerência. Portanto, se tudo isso te parecer confuso demais, não estranhe, dá de ombros também e senta na mesa que eu pago a próxima rodada.


Ser “reamigos” é como ser amigos, só que dos que deram um tempo pra “não enjoar do relacionamento”. Coisinha à toa. Foi muito bom superar esses entraves que o silêncio impõe. E quebrar um mutismo que já era humanamente insuportável.


Se eu fosse presenteada periodicamente com comentários que me fizessem repensar o que soletro a esmo – feito o teu - ficaria, então, menos penoso e mais fácil o parto diário das palavras que escolhem uns pobres coitados feito eu para serem seu canal. Só uma serva, eu. Fico grata, imensamente, de qualquer forma, amigo.


A família, como vai? Lauren, já enfrentou a lactose e a cafeína? O Bruno continua bebendo ilimitadamente? O enteado, Jean? Aliás, diga pra ele que Syd Barrett não morreu. Está escondido cá na “Ilha da Magia”, numa das doze praias secretas cujos mapas foram perdidos juntamente de boa parte dos vestígios dos antigos imigrantes açorianos. A única informação que Barrett obteve para atingir tal ponto livre, intocado de civilização, situado no litoral catarinense foi apenas a missiva: “ - Segue reto toda vida, pô!


(...é o que dizem...)


Abraços apertados pra vocês daí. Cuidem-se. Não tomem nos copos dos outros. Mas agradeçam sempre as bênçãos de Dionísio e não esqueçam de deixar um “golinho pro santo”.


3 comments:

Jana Lauxen said...

Li este texto aqui, voltei, li o outro e ainda passei pelo comentário do Cícero.
Interessante mesmo.

A tristeza da questão beleza é que, por mais que você "trabalhe" para criá-la e mantê-la, ela tem prazo de validade curto.
Você estica, preenche, pinta e borda, mas no fim das contas a idade grita (tudo que sobe, desce, hã?).
Já a inteligência é mais garantida. Tem vida mais longa. É ela quem te salva quando os botox não adiantam mais.

Ah! E também adoro esta coisa interativa que rola nos blogues. E também adoro que os meus leitores me conheçam (não tenho nem quero esconder nada deles).

E teus comentários, querida: sempre uma poesia.
Me orgulho deles! Adoooro.

Beijo, beijo, espero em breve te rever, velha amiga.

Anonymous said...

realmente nesse clube não há de haver silêncio...

plac, plac, plac


posso favoritar?


até mais

Anonymous said...

ah sim, gostei de tudo, e como disse antes, só não acho que terás silêncio, e sim aplausos, no entanto, tenho certeza de que os convidados vão esperar o momento certo de aplaudir...

quanto a Elvira, não sei exatamente...
me parece que ele vem sim, e trás suas abelhas com ela...

acho que o velho também perambula um tempo pelas parreiras... que tal?

o importante é que ela chegou e que José refletiu... e agora tudo ficará verde depois da chuva mais uma vez, é a hora de recomeçar...

quem sabe isso não vira uma novela, um roteiro, uma peça apropriada para um bar mais elegante que um teatro?

hehehehe, até mais e bons escritos.