Aug 12, 2008

Das Velhas Dicotomias.


beleza x inteligência




Li em alguma página que “o mal das mulheres é que elas preferem ser elogiadas por sua beleza muito mais do que por sua inteligência”. Concordei. Tanto que me lembro da sentença rotineiramente, mas da autoria, não consigo recordar de jeito nenhum. Acho que é porque ela assenta perfeitamente com tantos autores, quanto os em que consigo supor que a profeririam. Eurípedes, em Medeia, rompendo com a distante tragédia Ática, poderia muito bem dizer isso na voz de uma persona trágica, na própria protagonista não cairia mal. Simone de Beauvoir poderia, também, por exemplo, entre as milhões de verdades ressentidas que ela fala como que de passagem em “A Mulher Desiludida”, considerar sobre a predileção das mulheres pelos atributos físicos aos pertencentes às idéias. Nelson Rodrigues, insinuando o mau-caráter feminino inato, poderia argumentar citando o fato dessa predileção. Virginia Woolf o diria entre sensibilidades estonteantes e uma clareza inofuscável. Eduardo Galeano faria uma consideração de espetacular fingida ingenuidade sobre o tema.

Penso. Realmente gostaria de poder nomear quem cito. Mas a memória é um labirinto em que quando entramos, nos afundamos e nos perdemos. No meu labirinto, memória e imaginação não se distinguem muito bem. É melhor não passar tão perto.

Tanto me instiga a afirmação do tocante que realmente interessa às mulheres, é que mesmo nesse meu labirinto de lembrança ela persiste. Pulsante. Um pouco incompleta – como posso esquecer a autoria? Mas não acho que isso se diga somente das mulheres e nem que beleza seja a única coisa pelo qual se prefira ser elogiado. Sem generalizações, mesmo generalizando. A verdade é que ser elogiado pelo inteligência, pela pura e complexa capacidade de entendimento e compreensão, de verbalização, pela vastidão do mundo ideal que se possui de bagagem interessa é mesmo a poucos. A inteligência, quando não faz referência a grandes descobertas e frutos advindos, enriquecimento, capacidade de sobressair-se, a inteligência como genuína de inteligibilidade, não, não atende aos interesses desse “nosso tempo”.

Preferir ser elogiado pela beleza do que pela inteligência, se fosse de fato pela beleza intacta e natural, pela beleza abrangente e real não seria má idéia. Antes uma idéia até atrativa. Mas é que beleza, nesse caso, não quer dizer beleza. Sabe quando uma palavra que era pra ser bonita vira um palavrão obsceno? É esse o caso do termo. A beleza preferida pelas “mulheres” é a beleza do padrão, a beleza incoerente que só é gerada pelo sacrifício, a beleza do plastificado e perfeito, a beleza do inumano, do que só é atingível a bisturi, sucção e implante. Nesse tipo de beleza, não cabe simplicidade, não cabe deslumbramento. Ou cabe em um prótese de silicone de dois litros? Não é o volume.

Tudo é tão milimetricamente planejado, não sabem que a beleza precisa de espontaneidade, de uma minúcia que não possui controle, às vezes de um olhar estrábico, de um cabelo selvagem, de umas sardas e de uns certos maus modos. E que essa, somente essa beleza poética, efêmera como toda beleza, essa beleza suscetível e verdadeira é que possui valor quiçá maior que o dom da inteligência.

5 comments:

you're no fun any more said...

Beleza?
Comofas?
Babe, jurei que tinha lhe avisado. Não lembro o porque não. Jurei que tinha te deixado um comentário já com o outro assinado. Que loucura.
Não se magoe. Imploro.
Sacuméné, ser inconstante. Não adianta.
Saio amanhã da terrinha, frustrada por não ter te encontrado. Vou em direção a Porto e depois de amanhã, Gramado. O festival me espera. Ele e todos seus coquetéis maravilhosos. Depois, dia 18 tenho um aniversário de quinze anos (sim, as pessoas ainda fazem quinze anos) em Porto e dia 19 migro para a terra da garoa. Lá, de cara, me muno de Terça Insana no início da noite e de alguns goles no final dela. Dia 03, vou para Cu-ritiba.
Queria ter te contado tudo isso pessoalmente, entre algumas fumaças.
Se cuida aí e continua sendo meu gênio preferido. Esse papo de beleza tá por fora.
Amo.

cicero.mondadori said...

Olá cara re-amiga.
Andei a devorar teus aforismos por este blog, e, a priori, comento aqui apenas para deixar um elogio a tua escrita atraente e aveludada, como um bom tinto...
mas queria também aproveitar a deixa para expor uma opinião deste último "post", esta velha dicotomia. Claro, seria muito mais proveitoso numa mesa de bar, mas os bares andam escassos de vagabundos pensadores...
Creio que da beleza há, sim, muito mais satisfação quanto a um elogio referido. Mas não será pela "palpabilidade" da questão? Da mensurabilidade e comparabilidade, e pela comprovação fácil ante a um espelho? Coloco outra questão: Qual o valor de uma beleza natural para nós (no papel de possuidor), posto que nada fizemos para a possuir? É equivalente a parabenizar uma pessoa pelas primaveras que alcançou: Ela nada fez além de sobreviver.
Quanto à inteligência, esta sim, lapidamos, nutrimos das mais variadas fontes. É edificada ao pelo possuidor, pela seleção de literaturas que absorveu, pelas vivências a que se expôs. Enfim, é mérito inerente ao ser que a possui, e é, muitas vezes, incomparável, incomensurável. Podemos dizer, então, que existe uma "estética da inteligência", numa gama de estilos que, aqui sim, acho que se pode orgulhar de um elogio, dada a complexidade e extremo esforço para se obter tal elogio...
Fechando: a beleza não-natural talvez, nesse caso, seja mais elogiável também, pois é algo construído, alcançado por artifícios produzidos pelo ser, e, objetivo alcançado, torna-se esforço "parabenizável".

Não sei se tu és aversa a comentários, sei que, às vezes, queremos divagar sem intrusos.
Mas espero que não, que esta seja apenas mais uma mesa de bar onde, por ventura, possamos nos encontrar às graças do acaso...

Grande abraço!

Fernanda Schena said...

Nossa Natee, tamanho é verdade que, por vezes largo um livro e vou prá frente do espelho me 'organizar' (pele, cabelo, corpo..).
Caralhão.. tu acredita que essa semana ainda eu tava pensando, se pudesse escolher entre ser linda e perfeita ou inteligente, ainda ficaria com a beleza. Me pirei com a escolha, e tentava reafirmar para mim mesma, que decepção Fernanda..
Acho que todos temos um pouco de narcizismo nas veias também!
Mas o fato é que ainda divago sobre essa questão! E me acho feia e burra, outrora linda e inteligente. Vai saber!

Bem, mas tu é lindaaa né fofa e inteligente na mesma proporção!!
Achei teu blog pelo da Jana! Não sei se tu lembra de mim lá da FAC..
Um beijo prá tu flor de laranjeira!

Jana Lauxen said...

Tô contigo e não abro.
Em gênero, número e grau.


:)

Anonymous said...

parabéns, noto que vc se esforça enquanto escreve, seus textos são ótimos...