Cícero,
Seu "perfil de blogger" me é indisponível, e não tendo onde responder, respondo cá mesmo.
Espero que tu leias.
Tua gentileza comparando essa minha sopa de letrinhas meio sem gosto a um tinto me deixou até comovida.
Não é tanto pelo prazer narcisista de ser lida, mas me parece que sempre que alguém se dispõe a dar um pouco de atenção a um texto, a ler as sentenças, a descobri-las, esta pessoa também se torna escritora dessas mesmas letras. Um vínculo. Quando há oportunidade como uma dessas, onde os dois indivíduos que dedicaram tempo de sua vida a criar e decifrar os mesmos códigos lingüísticos, este mundo obscuro e obsceno das palavras, quando essas pessoas unidas na mesma experiência simbólica, ambas têm a oportunidade de conversar e de trocar comentários, é que se transcende. Ou seja, resumindo: os pitacos são extremamente bem -vindos. Aliás, acho que a única utilidade de um desses "blógues" é a possibilidade de comentar e ser comentado. A "interatividade".
Quanto à beleza versus inteligência, teus comentários e questionamentos foram realmente pertinentes e me pegaram em pontos em que eu ainda nem havia pensado. As tuas proposições foram infinitamente mais bem orquestradas que as minhas. Só posso dizer que acho que a beleza, quando perseguida, deixa de ser beleza. Vira o palavrão. Para mim, e aí eu falo da forma mais pessoal possível, beleza é uma entidade imune a conceitos, imune às limitações causadas por padronizações, imune!, mas que precisa de espontaneidade. Já a “inteligência”, tendendo então mais à sabedoria que a “inteligibilidade”, não só pode, como deve ser perseguida. Eternamente “caçada”, como boa raposa que é.
A naturalidade da beleza é que, exatamente, a torna bela. E aí não importam os elogios, mas se for o caso, eles surgem naturalmente, como uma expressão da reação ao estímulo de belo. Mas aí eu continuo no plano pessoal – e o que fazer se eu não sei falar de outro jeito? É como se a beleza fosse então, uma união de fatores que se agregam ao acaso em um determinado tempo, resultando um instante poético. Um feixe reluzente sem razão de ser, sem serventia nenhuma, como a poesia, mas que é tão necessária que sobreviveria à eternidade. Como a poesia. Uma coisa que insurge e que precisa, sim, de inspiração. Como a poesia.
A possibilidade de constatação ante o espelho é por demais ligada à subjetividade de quem busca seu reflexo. Há mulheres de formas estonteantes que simplesmente não podem e nunca poderão ser belas, a não ser em passarelas. Acho que a tal beleza também pede um pouco de graça. Não sei. A beleza é quase tão fugidia quanto a raposa “inteligência”.
Já deves ter percebido que quando escrevo, dou de ombros à lógica e à coerência. Portanto, se tudo isso te parecer confuso demais, não estranhe, dá de ombros também e senta na mesa que eu pago a próxima rodada.
Ser “reamigos” é como ser amigos, só que dos que deram um tempo pra “não enjoar do relacionamento”. Coisinha à toa. Foi muito bom superar esses entraves que o silêncio impõe. E quebrar um mutismo que já era humanamente insuportável.
Se eu fosse presenteada periodicamente com comentários que me fizessem repensar o que soletro a esmo – feito o teu - ficaria, então, menos penoso e mais fácil o parto diário das palavras que escolhem uns pobres coitados feito eu para serem seu canal. Só uma serva, eu. Fico grata, imensamente, de qualquer forma, amigo.
A família, como vai? Lauren, já enfrentou a lactose e a cafeína? O Bruno continua bebendo ilimitadamente? O enteado, Jean? Aliás, diga pra ele que Syd Barrett não morreu. Está escondido cá na “Ilha da Magia”, numa das doze praias secretas cujos mapas foram perdidos juntamente de boa parte dos vestígios dos antigos imigrantes açorianos. A única informação que Barrett obteve para atingir tal ponto livre, intocado de civilização, situado no litoral catarinense foi apenas a missiva: “ - Segue reto toda vida, pô!
(...é o que dizem...)
Abraços apertados pra vocês daí. Cuidem-se. Não tomem nos copos dos outros. Mas agradeçam sempre as bênçãos de Dionísio e não esqueçam de deixar um “golinho pro santo”.