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do dia morto. do dia sem saco nenhum. do dia frustrante. do dia em que nada acontece e que, mesmo se acontecesse, só serviria pra um ou outro deboche ou qualquer sentença tímida e rançosa que declarasse puro enfado. talvez essa fosse uma boa segunda-feira pra destruir alguns tecidos tragando gim fervente. mas até quanto à minha auto-mutilação eu ando indiferente. tanto faz abrir feridas purulentas nas vísceras ou não. numa segunda-feira como essa o que se faz tentando destruir - ou, vá lá, salvar - a alma [lama!] é inútil.
[tosse, tosse.]
quê faço eu? sacudo os ombros, cato um cigarro e deixo que o moço drummond de andrade fale por mim. ele é bem mais eloqüente. infinitamente mais eloqüente, pra ser exata. e suas linhas fluem, apedrejam capelas, cospem ácido, penetram e se escondem nos recônditos mais improváveis de qualquer bendita criatura. é o tipo de verso que cuja leitura não se pode reverter. não há escape ileso.
do dia morto. do dia sem saco nenhum. do dia frustrante. do dia em que nada acontece e que, mesmo se acontecesse, só serviria pra um ou outro deboche ou qualquer sentença tímida e rançosa que declarasse puro enfado. talvez essa fosse uma boa segunda-feira pra destruir alguns tecidos tragando gim fervente. mas até quanto à minha auto-mutilação eu ando indiferente. tanto faz abrir feridas purulentas nas vísceras ou não. numa segunda-feira como essa o que se faz tentando destruir - ou, vá lá, salvar - a alma [lama!] é inútil.
[tosse, tosse.]
quê faço eu? sacudo os ombros, cato um cigarro e deixo que o moço drummond de andrade fale por mim. ele é bem mais eloqüente. infinitamente mais eloqüente, pra ser exata. e suas linhas fluem, apedrejam capelas, cospem ácido, penetram e se escondem nos recônditos mais improváveis de qualquer bendita criatura. é o tipo de verso que cuja leitura não se pode reverter. não há escape ileso.
OS OMBROS SUPORTAM O MUNDO
Chega um tempo em que não se diz mais: "Meu Deus".
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: "Meu amor",
porque o amor resultou inútil.
E os olhos não mais choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Fiscaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa que venha a velice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo,
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios,
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
[Carlos Drummond de Andrade].
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