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ele era um bêbado. não que essa fosse a única categoria pra enquadrá-lo, só que termos feito cidadão de terceiro mundo ou latino-americano morto de fome não vinham à mente quando se sentia o hálito podre de cachaça e cárie de joão.
sim, esse era o seu nome. joão-bobo, joão-ninguém. ou joão-de-barro, como a ave ardilosa que faz do mundo bruto a sua casa.
mas joão não parecia passarinho. joão não parecia nada. era mais um rosto desfigurado no fundo do boteco do bairro. um homem que não sabe o que significa pós-moderno mas que abriga na barriga inchada também o vazio do nosso tempo.
nunca teve tino pra trapaça. nunca teve tino pra nada. um poeta de construção, outro faminto analfabeto. joão largado no meio do mundo de joãos e josés. joão abandonado por maria - que cheia de sonhos e mole de carnes, quis vida nova.
joão não mata. joão não rouba. nem ouve música ou vai ao teatro. é joão sentado no asfalto, é joão com sede.
sede de quê?
nem ser gente ele quer. sequer lágrima pra chorar por maria ele tem nos olhos vermelhos de birita e de tédio.
mas o herói anônimo não sabe empregar o termo tédio - sequer herói o anônimo é!
joão-bobo, joão-ninguém, joão no balcão, joão sem cigarro.
joão que não manipula seu dia porque suas mãos de unhas sujas só sabem tremer. que não espera por vida, não espera por morte.
joão que não espera.
por nada.
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