Jul 18, 2007

uma noite de puro caos.

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fumo treslouca e desesperadamente. não que seja uma qualquer nova ou realidade diferente, só que a compulsão agora toma ares de despedida. com os conformes excessos da despedida. é como se fossem arrancar-me um apêndice vital. a continuação de meus dedos e de meus gestos. e não mais girará sobre mim a fumaça leve cujo cheiro, acreditem, aprecio.

estarei só na insônia, mas meu hálito melhorará - eu lá quero hálito fresh! quero o filtro vermelho em riste, é a minha própria armada frente as obscenidades desse mundo.

mas tiram de mim, eles tiram. eles quem? ora, quem...!, o governo, certamente! não são eles que nos tiram os pequenos luxos a que ainda nos damos? não são eles que fazem a classe média avistar em seu próximo passo o abismo? sim, são eles. pouco me importa que eu esteja estupidamente necrosando um órgão vital na minha rotina, não consigo fazer das preocupações com a saúde futura um peso em minha consciência. acho que até deveria, mas não consigo. é o bolso o outro apêndice [e mais vital ainda] o que clama uma chance de sobrevivência.

outro cigarro. a despedida, a despedida...



***



nota:

o-filme-que-não-deve-ser-assistido-quando-se-leva-a-cabo-a-difícil-e-triste-decisão-de-abandonar-o-cigarrê: nicotina.


[exacto! eu também percebo que a nomenclatura que denonima o filme remete diretamente aos bastões brancos. todavia, la película producida en Ciudad de Mexico é um filme agradabilísimo de se assistir. com trama irreverente e atada com maestria e atores e notáveis. em suma, tudo bem feito. e um perfeito programa se tiveres acompanhado de umas boas duas carteiras.]

Nicotina. drama. Paris Filmes. direção: Hugo Rodriguez. elenco: Diego Luna, Marta Belaustegui, Lucas Crespi. ano: 2005.
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o dia em que o stabilishment é sensibilizado por um despretencioso casal do subúrbio florianopolitano.

dados sobre a empresa "pizza hut":

países de alcance: oitenta e oito.
número de restaurantes: mais de doze mil.
produção diária de pizzas: mais de 11,5 milhões.
outro dado que dá a noção das projeções da empresa: a Pizza Hut é a primeira corporação no mundo a colocar o seu logotipo na fuselagem do maior foguete de prótons já construído, lançado ao espaço no dia 12 de Julho. com esta decisão, a Pizza Hut abriu um novo capítulo na comercialização de projetos espaciais.


verificados então tais dados, fico eu abismada por haver sido notada pela gigantesca corporação.

em uma dessas noites chuvosas e frias da ilha, toda acabada de gripe e com aquela fome típica de jovem sem anseio algum pra cozinhar, pedi uma pizza. das huts de promoção, com desconto. após ter de esperar mais de duas horas para o recebimento dela - da pizza-, e haver ligado mais de quatro vezes para reclamar o atraso, eis que a recebo: gelada e murcha, a rúcula clamava por hidratação e o tomate seco era uma das coisas mais antipáticas que eu já vi. minha indgnação só poderia ser aliviada com um bilhete esclarecedor de minhas iras ao responsável. afinal, mesmo que das pequenas, eu ainda sou uma consumidora, não é mesmo?

e o responsável recebeu mesmo o bilhete que jurávamos todos - ou seja eu, meu marido e talvez a pequena vira-latas Dinalva - ninguém exceto o motoboy de luvas veria. leu e ficou bravo. no sábado o telefone daqui de casa foi inundado de pedidos de desculpas. e sem o dipêndio de nenhum reles tostão não é que fui abonada de uma pizza grande, gostosa e entregue em vinte minutos?

...huh!

[ou: hut...!]
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e finalmente, meu sincero – ainda que inexpressivo, sincero e pesaroso – luto pelos gaúchos, paulistas e quem quer mais que houver sido lesado pelo acidente aéreo em Guarulhos. [que já está sendo considerado o maior desastre do tipo da América Latina.]

se instantes de silêncio e bandeiras arriadas não passam de meros símbolos tradicionais para a dor, poemas podem ser o estandarte a canalizar as lástimas:
que mais haurir pode da morte lida,
da sentida vaidade de seguir,
um caminho, da inércia de sentir,
do extinto fogo e da visão perdida.
senão a calma aquiescência em ter
no sangue entregue, e pelo corpo todo,
a consciência de nada q'rer nem ser.
[Fernando Pessoa - A Parte do Indolente]

2 comments:

Cristian said...

.despretencioso. mas, quem precisa de pretensão quando se escreve com a alma?

belos textos.

Felipe da Fonseca said...

na-te-me, não tenho olhos para ver o mundo com ironia tão apurada, creio. êta, que a inveja é um monstro de olhos verdes! ah, mas minha compulsão é altamente infecciosa. lerei tudo quanto escreva.