Jul 2, 2007

das horas rimeiras, romeiras horas, primeiras horas...

...às auroras sem despeito.


o corredor está mudo, passada alguma pra ressoar. só algum ou outro bicho que ronda o longe. bicho tímido, bicho só à procura de - quem sabe? - talvez uma simpática companhia. e há aquele relógio cromado na parede da sala esbravejando, sem fúria e copiosamente, que da correnteza não se sai ileso.

é tique-tique e taque-taque. os ponteiros ficam em segredilhas a cochichar o prenúncio do que nem é novo. lá são tantas as voltas pra dar nessa cirando estática e carente de riso que se eu decidir fugir de algum ou outro giro ninguém notará. sumo e me evado do tempo na esperança de que, vá lá, talvez ele se esqueça desta pobre alma insone. sair em sigilo às barreiras do cronometrado e do agendado, das voltas no mesmo quarteirão e das viradas previsíveis do destino místico pra passear onde não haja vestígio de constância numérica. começar o dia que não se marca no calendário só é plausível quando é diluída no ar generosa dose de inconstância quimérica. senão, sinto informar, mas pouca coisa se aproveita.

e se o dia é todo nesse faz-de-conta de inocência simulada, quero maços de cigarro que não me rendam futuras necroses ou metástases. junto com café que não resulte em gastrite e, se não for exagero, uns docinhos que não tripliquem as adiposidades abdominais. é um infantil desejo que carrego de poder sentir de meus pequenos prazeres sem temê-los. e sem essa mentira que eu tento engolir há tempos chamada comedimento. quanto mais anos acumulo, mais creio ser o bom-senso o pai do agridoce que dá ânsias de regurgito. vou de amargo e garapa ardendo na língua. bons modos fazem Lair Ribeiro e suas apostilas/mapas para o sucesso. atracações impiedosas fazem Salvador Dalí.

música! não aceito manhã que desperte quieta. imagino-a feito estrondo, compatível até com um sintetizador. ou, quem sabe, jimi hendrix no vinil. e chaleira a borbulhar e apitar. entra Beatles: good morning, good morning, good morning, good. as janelas do andar de cima sendo abertas, uma a uma. tudo junto nessa vertente de ondas sonoras e coloridas. difrações, reflexos, ecos retumbantes. é o dia que vem pra logo ir sem que se aperceba. é a maré que eleva e rebaixa sem destino à alto mar que afogue. é barco que navega entre sereno e festivo.


venha a data em que não se contam as horas, se enumeram - sem nexo ou lógica inteligível em mundo real e concebível - as sensações que não se perdem. as que não podem ser esquecidas.

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