Jun 30, 2007

- duas considerações, por favor.

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texto que se enquadra na categoria de reaparições e palpites.

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a boa nova da semana.

foi aprovada uma medida governamental que torna legais as importações de cacarecos tecnológicos, de brinquedinhos de aparência duvidosa e, claro, daquele imponente montante de muambas provenientes de nosso colega américo-sulista Paraguay.

mais interessante ainda é que sequer os próprios sacoleiros gostaram da providência: a alíquota que custa a soltura do contrabando exige o dispêndio de suados e numerosos tostões. e sobre a repartição dos grandes empresários da importação desse nosso país - inacreditável país - nem se fala: todos consumidos pela ira bradando contra essa irreverente classe que é a dos sacoleiros. [que por sinal já se organiza sindicato com altos níveis de posicionamento, coisa que eu desconhecia.]

pra justificar e salvar do irrisório a nova forma de importação nacional, os representantes do povo brasilienses afirmam que a necessidade de tal medida provém de acordos amigáveis que devem ser tratados com nosso comparsa sulista que obtêm da marginalidade grande soma de seus lucros: a diminuição dos sacoleiros brasileiros estavam gerando déficit econômico por lá.

claro que todo o jeitinho brasileiro implícito nesta nova implica em dar uma alividím nas fronteiras. e uma conseqüente tiradím de policiais que zelam pela segurança nas áreas fronteiriças entre os cá e lá.

piada genial do orkute que me vêm à mente por hora:

- yo soy paraguayo y vengo del Paraguay para matar-te.
- para o quê?
- Paraguay!



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quando os diamantes são pisoteados.



[ou, seção pagação de pau.]
“o lugar ideal para perder alguém ou parar perder-se de si próprio.”








que Walter Salles é mestre tupiniquim não há dúvidas, aliás nunca houveram. mas, se por hora o diretor desfruta da fama, das premiações e da conta bancária merecidas, no ano de 1995 só dispunha de seu talento e de amigos também talentosos. e embasado neste último é que dirigiu, juntamente de Daniela Thomas e do produtor Flávio R. Tambellini, o filme Em Terra Estrangeira.

o orçamento, para um filme que dispunha boa parte de suas imagens obtidas em Lisboa, era baixo. trezentos mil dólares. mas, se há maestria em jogo, pouco patrocínio nem chega a ser grande problema.

a idéia do longa parte em três frentes: o uso artístico e criativo dos instrumentos cinematográficos, com toda a ousadia do uso abusado de noir, com transfigurações de imagem e uso de arquivo e, finalmente, com a magia de um filme feito em p&b; a transfiguração de todo o horror da era Collor- com o Confisco daquela pouca soma que a classe média/baixa havia conseguido juntar - para a película e, por último, com a vívida retratação do que foi a época de exílio e como era a vida como estrangeiro quando a vida no Brasil já transpunha o impossível.

pessoalmente, para os diretores, produtores e equipe, a realização do filme consistia também em rememorar a época de extrema dificuldade para o cinema brasileiro que eram aqueles anos. trata-se de um passado que, como afirma Daniella Thomas em entrevista creditada ao dvd, "se falava em cinema, se estudava cinema, mas não se fazia cinema pois não havia cinema no brasil." um refugo quase docemente vingativo e provocante é o rememorar de uma época onde a perda sobrepunha-se em todos os cantos.

o pisoteio das jóias é a última cena. o final – que não se conta, é verdade. mas um desfecho de obra feito com tanta força poética não pode ser calado. é poesia cinematográfica de peso equivalente ao de uma bigorna. tamanho impacto também é genialmente encenado pelo elenco, que inclui Fernanda Torres, Fernando Alves Pinto, Alexandre Boreges, Luis Melo e Laura Cardoso.

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