Por que o amor não é o suficiente?
Porque as pessoas não estão prontas, maduras o bastante para o sublime, embora seu amor esteja em flor, ou em fruto carnudo e doce, esteja em forma e pleno. Não é sempre que o coração está pronto, que o corpo está pronto, mas, especialmente, que a mente está pronta para amar. Porque amar é sempre demais e é sempre tudo. Mas agrega tantos extremos, tantas facetas e tantos sentimentos, que se torna difícil e dolorido. Mesmo – já sabemos décor e salteado - o ódio, é uma rasgada e ardente versão do amor. A coroa da cara, mas a mesma moeda. O que não é amor, é só apatia e indiferença. O que não é amor é nada.
O amor não é o suficiente porque ele não é humano, enquanto nós somos e por demais. E fracos por isso. E tolos por isso. E facilmente corruptíveis por isso. E certamente ludibriáveis por isso. E tempestivos por isso. E herméticos por isso. Humanos, sim, demasiado humanos. O amor não é gente, não é cor, nem bicho, nem concreto, nem abstrato. O amor é demais para os humanos.
O amor se basta, se sustenta. É como a energia que não se perde. Que se propaga. Que se transforma. Isso: amor-energia. Amor é como luz. Calor e luz. Nós estamos no escuro. Agarramo-nos à luz que, em alguns feixes certeiros, entra em nossa caverna. Mas não podemos pegar a luz, tateá-la, guarda-la conosco. Ela segue seu destino por si em reflexão, refração, difusão. O que podemos é apenas sentir seu reflexo. Tentarmos não sermos opacos. A melhor metáfora pra amor: é como luz. Auto-suficiente por si. Mas não, não é o suficiente. Não pra gente.
Como eles, que se amavam, mas não se entendiam. Um casal. Enquanto seu amor crescia monumentalmente, seus egos, seus anseios e sua carga dramaticamente pessoal se distanciavam. Não se entendiam. Quando ele queria dizer alguma coisa, ela compreendia absolutamente o contrário. E vice-versa. Não era por birra, ou má-vontade. Por mais que falassem o mesmo idioma, a mesma língua – e até o vocabulário se parecia – era como se estivessem falando um em aramaico e o outro em latim. Eram humanos. Ele e ela, com tanto amor e tanta semelhança, não conseguiam se entender. Queriam dizer: “- Eu te amo!”, “- Estou com medo disso tudo.”, “- Não podemos nos perder!”. Mas o que saía de seus lábios era, na verdade: “Lá vem você com sua grosseria!”, “- Como você pode ser tão infantil?”, “- Viu, vai dar piti de novo!”
E enquanto isso, a luz entrava pela janela e não encontrava onde irradiar. A sala era opaca. Ficaram os dois no escuro. Cada um tateando a mobília, caminhando rente a parede, clamando por uma chaminha fraca que desfizesse tal breu. Uma vela, talvez. Um amanhecer que não veio. Ficaram na escuridão. E nunca mais sentiram a mão de um na do outro, como eles gostavam de fazer quando o dia ainda era claro.