Feb 26, 2008

só para os raros.





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se eu fosse abrir um bar teria o mesmo nome do meu club virtual. não seria exatamente um bar, bar, onde só se serve cerveja e se divague e coma nas mesinhas redondas. um bar, que sendo bar ao mesmo tempo despertaria algo mais. convidaria a algo. seria mais um teatro. mas não propriamente. teria a classe, a tensão lúcida a cultura vivída de um teatro. e ao mesmo tempo o tom profano, a vagabundagem, o ócio que só se encontra nos melhores botecos. jogatina permitida, mesas de sinuca. el club silencio.

as bebidas seriam efervescentes, nada tão caro. drinques coloridos. mas cerveja em canecos bem grandes, canecos de vidro pra empunhar como uma taça. preços razoáveis e diversão etílica ou seu dinheiro de volta. mas nem só de surdina, madrugada e trago vive o homem. há de se ter cafeína, bebidas fumegantes e bons cigarros pro papo vespertino. uma meia luz feita com cortinas de veludo grossas e janelas abertas por onde penetra em difração a luz solar vespertina. ar intimista, onde as melhores prosas, as mais longas, que perduram toda a tarde poderiam ser discorridas.

uma decoração vermelha. azul. veludo coquetelê. talvez até uma boneca de cabelo azul no andar superior. talvez eu até remonte cabarés boêmios na decoração. os fumantes não seriam relegados a alas anti-sépticas. as pessoas sabem se organizar naturalmente, é a vida em sociedade, cada um bem sabendo o que deseja pro seu nariz. de um círculo vermelho a um arrebitado prepotente. e quem se importa tanto com a fumaça do cigarro alheia, certamente não desejaria freqüentar silencio.

as atrações, sem chamariscos comerciais, seriam das mais diversas e envolventes. saraus, shows, peças, recitais, o que se quiser fazer no palco. e o palco é aberto a quem tiver coragem de encará-lo. a quem tiver humildade suficiente, também. não quero vender bebidas a preços exorbitantes e lotar a minha casa. "casa cheia" só se for de descontração e boa gente. isso tudo não tende em nada pras "baladas" modernosas que têm por aí. el club silencio está a salvo delas. Não é “night”, é madrugada, é noite, é escuro. “azaração” é barrada na portaria.

mas o melhor de tudo, a verdadeira essência do club silencio, o que lhe importa mesmo e o que o manteria muito além da construção de concreto e de um caixa cheio seria a gente. el club silencio não exige nada de ninguém para entrar, nenhum centavo, nenhum pré-requisito. Todos à vontade, cheguem mais perto! mas mesmo assim, não bastaria ser qualquer um. não bastaria ter montões de dinheiro pra gastar, não. as pessoas seriam escolhidas por sua espontaneidade, pela naturalidade dos gestos, pela simplicidade. pro club silencio não conta de nada a eloqüência, os bons modos, a vastidão cultural, os saberes e os termos coerentes. pro club esses valores de "fila anda" e "pegação" não valem de nada também. Nem pequenices da classe média, nem maldade, muito menos a futilidade.

vale a loucura, sim, a loucura pessoal, a insanidade genial que há no âmago de todos que se deixam levar, a tendência a ser o que se é, a humildade - por favor não a modéstia - a despretensão. no club silencio vale quem silencia, mas quem não sabe calar também.



"só para os raros", algo assim, talvez, como Hesse. afixado na porta, sem nenhuma proibição. quem é raro saberia e inevitavelmente entraria. quem se importa com uma plaquinha citando Hesse na porta da frente certamente sentiria que ali é o lugar onde deveria estar. só para os raros, a única publicidade.