Mar 3, 2008

mundo, mundo, vasto mundo.

me chamar raimundo parece piada pra apontar solução, desculpas ao gauche. Solução – suspiro resignado – só em ficções científicas, talvez.

no oriente explosões, bombas, fumaças, corpos decepados, caos. é irônico, assolador de esperanças, o fato de o pequeno agregado de terras do crescente fértil, esse montante entre rios, exatamente onde a civilização - historicamente analisada, advinda da invenção da escrita, mais propriamente - tenha surgido. agora está assim, do jeito que sabemos que está e que, separados pelas alcunhas de orientais e ocidentais, bem nos bastamos a dar de ombros. assusta.

no ocidente, os mesmos males modernos. aliás, corrijo-me, pós-modernos. os sentimentos de irmandade américo-latina vêm abaixo. ruem. conflitos que a boa vontade não resolve, narcotráfico, troca de tiros de metralhadoras que matam sem pestanejar. Matam sem limites. Fidel abdicou, ou estou louca? devo estar louca, pois Fidel abdicou. a mão avaramente adunca largou o cajado do poder. trêmulo, o general pendurou a farda e vestiu o pijama. e as pantufas.

solução, solução. nem querer, se quer mais. um pouco de paliativo, paz, apaziguamento, talvez console. o salário mínimo aumenta inverossímeis trinta e cinco reais. isso não é paz. é piada.

apontar uma luz, segurar uma lâmpada elétrica pra alumiar um pouco dessa treva e horror. talvez a visão do real desperte um pouco de repulsa, náusea e horror. quando sucessões de tragadas de cigarro não bastam, não contêm o ímpeto, respirar direito não alivia a ânsia de regurgito. ainda assim, segurar a lâmpada. a luz, uma fonte de luz. clarear as trevas, ter estômago - esse órgão da tristeza, esse órgão que engole, digere tristeza - para agüentar a visão do que a realidade se tornou. ser forte o suficiente.

as coisas como são e se tornaram doem. não querer vê-las, tamanha sua feiúra, tamanho o fedor de suas mazelas e entrâncias, é até compreensível. mas é, antes de tudo, uma traição à vida, ao que a vida é. é como renegá-la, simplesmente. não dispor do que a existência mais implora: coragem. coragem o suficiente pra não abandonar o posto.

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...e o completo oposto disso tudo.

coisa mais bonita: na primeira transmissão de ondas sonoras aos recônditos do espaço, a asséptica nasa escolheu como canção "Across the Universe", Let It Be, Beatles, John. das profundas, significativas mesmo uma coisa dessas, arrepiante. eu, de bom grado, satisfeita inclusive, deixo o meu amado fab four falar por mim, uma voz universal, e mandar a mensagem de minha raça [divagações com tendências ficcionais incríveis a parte] e espalhar como mensagem: Jai Guru Deva Om. Indo, indo longe, indo para através do universo. Ondas de melodia que transcendem à paz. Aqui tem guerra, mas mandamos paz.

eu suspeita pelos pôsteres e pelas manias de beatlótatra [um vício que não desejo abandonar], não queria que outra coisa fosse dita.mesmo na nasa, nos malvadões states, mesmo que esse fato seja distante da minha realidade e pouco afete minha rotina, praticamente me servindo de nada, me faz bem. é poesia, não é?

...nothing's gonna change my world.